sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Enxaqueca

Dói aqui, parece-me que eu não sou mais quem eu sempre fui.

Dói a perda de mim mesmo, dói, e é uma dor que me adoece, me enfraquece.

Dói ter de achar algo que eu pensava que nunca perderia. E eu ria!


Nunca vou perder aquilo que me faz ser assim como eu sou.

Eu pensava, pensava e achava o que eu procurava.

Então um dia, eu perdi o que eu achei que tinha achado, perdi o que eu mantinha em mim, no meu quarto. Perdi porque me traí, me larguei por aí.


Então me surge um alguém que eu não procurava. Alguém que me olhava de longe, e aprovava minhas notas enquanto eu tocava.

Ela cantava uma opereta, jogada na sarjeta... Aparentemente fraca.


Ah! A força! A força e a forca.

A força e a coragem de ir pra forca de cabeça erguida e voz límpida.

A forca, a coragem e a força, o braço forte e o olhar úmido.

A força pra desfazer o laço da forca e me libertar deste embaraço.


Eu ainda tenho o que havia procurado? Ainda tenho o que havia achado? Ainda tenho o que procurava achar que havia perdido? Ainda tenho o que eu achava procurar pra tentar não perder?


Eu posso ver?

Posso saber?

Posso?

Será que eu permitiria tal honraria?


Hoje me deito ao relento, penso, lento, acalento, sinto o vento, tento...


“Olá, você sabe que horas são, meu irmão?”


O desconhecido era conhecido por mim mais do que por qualquer um que estivesse ali jogado, cansado de tanto beber rum.

Era eu. Era quem eu havia largado graças ao agrado que devia ser dado.


“Pois saiba, meu caro, que não há nada que me agrade mais que você mesmo. Pois então não mais me largue, não mais se largue... Por favor, o tempo está tão frio, e eu aqui! Não rio, não vivo, não sinto, não amo...”.


Acordei, com uma tremenda enxaqueca. Senti o Amor que não mais sentia, senti os salpicos do orvalho, senti a brisa leve que levou todos os meus erros e lavou todas as minhas lágrimas.


Entendi todas as quedas, todos os machucados, toda a hemorragia da alma, entendi a cólera. Entendi o porquê da correnteza em um rio de águas tão claras.


Você só perde quando não aprende com os danos. Enganos.

Você só se engana quando não percebe que o que se Ama jamais se perde.

Mesmo que o tempo leve... Mesmo que a chuva lave.



Mesmo que nenhuma nota acompanhe a clave...


(Para Felipe)

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