terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mais relatos de loucuras de amor em vão.

"Boa tarde, doutor... Desculpa espernear pra me encaixar na emergência, mas é que tô meio doente. Sabe, doutor, eu tô cansada de me foder, literalmente, "o amor é uma dor", e o senhor já deve saber. NÃO, não fala alto assim não, não briga comigo, eu sou de câncer, e fácil fácil já me irrito, mas não que seja por isso, é dor de cabeça mesmo. Aquele negócio de enxaqueca, até muita luz na minha cara me deixa meio bolada, por isso vim com esses Ray Ban que ganhei de aniversário de um ano de namoro. E eis que chegamos ao ponto exato. Sem desacato, longe de mim, mas aquele safado, ordinário, me botou pra fora da vida porque cansou do meu amor. Vê se pode, doutor... Tanta gente aí querendo uma mulher dedicada igual a mim pra passar a noite... Fazia de tudo, doutor... De café na cama a massagem no pé. Cortava até a unha depois do futebol. O que que eu fui? Fala mais alto! Idiota? EU? Por me entregar? O senhor deve ser mais um desses que abusam da boa vontade da esposa. Olha, não pode ser assim não... Nem parece meu terapeuta. O senhor tem dois filhos lindos, os meninos são uma graça mesmo... Sua esposa tá sempre por aí cheirosa, de prontidão caso precise de alguma coisa, aposto que nem cobra o senhor nas compras de mês. A presença, eu digo... O monetário já é complicado... Aí sim, doutor, é ser idiota. Mas voltando ao assunto, teve um domingo que eu saí de casa cedinho pra fazer a feira e me deparei com a beirada do mundo, quase que caio e me afogo, porque sem bóia eu não sei nadar não, imagina... Ali na lagoa, de bicicleta eu sempre vou pela contra-mão, adoro uma aventura. Se por acaso o senhor tiver um amigo disponível, pode promover a interação entre sua paciente preferida e o mais novo porco chauvinista que eu vou ter que aturar.
Tudo bem então, pois comece a anotar... Minha última novidade é que cheguei a tomar seis copos de feijão com geléia de mocotó no gargalo, me joguei na frente do trem... Dose cavalar de tylenol DC engolidos com a ajuda de dois frascos de tinta nanquim! Fora a cola de sapateiro que passei no sanduíche..."
"Eu sou uma mulher sinistra, aqui no meu canto eu faço tudo pegar fogo. Sabe como é, né... Intensidade me sobra, precisam ver o meu show como é visceral, é víscera pra tudo que é lado, fico a imaginar os corpos se explodindo e sobrando intestino na direita, fígado mais pra esquerda, vou montando. Mapeio direitinho pra banda não se espatifar. Eu canto, eu canto e sou sinistra. Uma vez falei amor no microfone e todo mundo saiu correndo, precisa ver...
Acho até que as pessoas me imaginam tomando banho numa banheira daquelas bem antigas, cheia de sangue transbordando.
Eu me enforco fácil com os dias. Ih, não tenho muito tempo pra você não, nem vem atrás. Eu vou é buscar qualquer coisinha ali no centro só pra perceber qual é a do trânsito hoje. Tomei um tapa de um molequinho sexta passada, ouvido zunindo o resto da noite, sorte que me perdi na night e nem liguei, tomei umas, umas duas, três, acho que umas seis... Fiquei lóki pela Lapa sozinha, nem ligo, isso é ser alternativo, não é não? Fora a calça apertada... Mas aí, se quiser ir lá qualquer dia, o meu apartamento é aquele que tem um buda bem na entrada porque eu acho buda sinistro..."



E enquanto ela achava que andava pra frente, eu ficava atrás, só rindo, só.

sábado, 28 de agosto de 2010

Eu me sinto um câncer aqui. Hoje eu sai andando trêmula pela Voluntários, peguei o primeiro ônibus que vi, afobando, saltei no próximo ponto 400 metros depois e dentro desses 400 metros parecia que quem andava era a rua, eu parada, infértil, sem lar e sem casca, via tudo acontecer da janela. As pessoas nos botequins me encaravam vazias e a caspa da minha cabeça me deixava ensanguentada diante da sobra da borda da pizza.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

E soluçando, desarmado, soltou um fio da sua sanidade: "Um dia eu mato o desgraçado que inventou essa modinha ridícula de querer comparar amor como se fosse exposição do canal do boi."

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A parentada

Um frango, dezoito cabeças.
Um cesto de roupa suja habita em mim. Dias chuvosos tomaram minha semana e o máximo que consegui foi deixar tudo de molho. Não suporto mais a sujeira da rua emplastrada naquilo que me veste.
Me perdi noite passada naquele frio, uma rajada foi o suficiente pra me despertar de um sonho bom, onde tudo era feito com vontade. Onde tudo era uma simples verdade. Acordo, desnuda, aflita, procurando sempre alguém do lado direito.


Mas me falta força e talento pra lavar 8 quilos de roupa suja.
Maldito apego que me puxa pra trás. Maldita paciência, maldita espera.
Maldito descaso, amor escasso, descompasso que toma conta da minha esfera.