sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Vou te contar um segredo. Não é bem lá um segreeeedo, mas prometa não contar a mais ninguém.

Ontem eu fui dormir e acordei com asas.

Eu juro. Foi incrível!

É que eu não dormi sozinha, sabe.
Tinha uma ausência presente.
E foi mesmo um presente.

Engraçado que a gente sempre acha que nunca vai viver nada melhor do que aquilo que já foi vivido.

Nada melhor do que aqueles dias em que você acorda e continua deitado até voltar a dormir.
Nada melhor do que aquelas horas que você passa sentado lendo uma vida, ou em movimento, procurando o seu verdadeiro sou pra poder atingir o orgasmo do seu verdadeiro eu.

Eu vivi tudo isso.
Tudinho mesmo.
Pois bem!
Alguém aí escreveu em um pergaminho empoeirado e cheio de traças, que quando você dorme com asas e acorda sem elas, você percebe que na verdade nunca teve o que prometeram lhe dar.

Eu vou sussurrar pra você... A solução é sempre a mesma: um tapa, uma concha cheia de feijão e uma aspirina.


E então, eu que me via com tapa, mas sem concha de feijão e sem aspirina, fui dormir e acordei com asas.

Eu juro. Foi incrível!

É que eu não dormi sozinha, sabe.





Sabe?

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Saudade do futuro.

E respiram as gotas da chuva
e se banham com o orvalho das cinco.

E se vestem com o abraço de boas vindas
e se abraçam com a contagem das horas.

E cozinham os próprios olhares
e se olham com os próprios sorrisos.

Se arranham a cada toque
e se tocam a cada respingo.

Bebem aqueles suspiros...
e suspiram com os poucos minutos.

E então, o primeiro deles se esparrama em meio à tanta...

Tinta?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Lama e lamúria.

Eu devia deixar macio o meu travesseiro, e deitar sem armar berreiro
Eu devia jogar fora o ursinho de pelúcia sujo de poeira e lavado de lembranças
Eu devia olhar pra frente e conseguir fazer diferente.

Mas é quase sempre do mesmo jeito.
Eu luto e sangro, só pra ver surgir o efeito.

E então prometi,
prometi seguir sem cair.

Só falta achar o corrimão da escada sem perdão
Só falta um pouco de ar pra respirar
Água pra hidratar
Tinta pra me pintar.

Só falta lua, só falta sono.

Só falta.

O que eu tenho?
A noite escura.

A noite cura?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A doida da Rua 14

Eu tenho que ir ali pegar o cortador de unha, ta precisando mesmo de uma poda... Não ta? Ou só tirar o esmalte já adianta? Estou bem pouco me lixando... Será que se eu lixar... Melhora?


Acho que ouvi alguém bater na porta. Pode entrar, meu senhor. O que deseja?

Quem? Alice? Não... Alice não morreu não. Sabe por quê?


*Sussurrando* Ela ta ali em cima, dormindo. É... Ali em cima sim! No meu quarto... Por isso que eu fico aqui na sala, entende? Você não entende... Não pode entender... E fala mais baixo senão ela desperta.


Ah... É tão lindo ver ela acordando... Aceita um chá?

Se aconchegue... Eu vou ali pegar o jogo de xícaras.


Esse aqui eu ganhei no meu casamento... De uma tia minha do Peru. Bonito, né?

Os outros quebraram na mudança. Meu marido, coitado, ficou arrasado quando viu que perdemos as taças também. Ele sempre falava que ia usar quando a Alice se formasse na faculdade.


Mas aí ela dormiu e nem viu... Ele foi comprar leite, e por sinal ta demorando. Que horas são, meu filho? Já são cinco horas? Ele prometeu que voltava às cinco.


E os dias passam, e as cinco horas vão aumentando... aumentando... e pin! Nada!

Eu nem sei porque ainda insisto em pentear os fios brancos da minha cabeça e lavá-los todo dia com meu shampoo de romã depois que descasco as cebolas.


Papai adorava. Mesmo já capenga, ele cheirava meus cabelos e chorava. Chorava tanto, o pobre. Dizia que tinha medo de enlouquecer também. E eu respondia:


- Papai, o problema é a transição entre a sanidade e a loucura.


Mas eu sei bem que era mentira.


Eu não sei de muita coisa, sabe... Eu acho até meio louco falar isso. Tenho medo da minha risada descrente. Só isso que eu sinto.


Cadê o cortador de unhas? Ele estava bem aqui.

Ah meu Deus, o cachorro já está latindo pra aquele maldito gato cinza da vizinha! Não sei porque cargas d’água ela não dá logo um veneno pra ele. Roubou meu queijo ralado, dia desses.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Saliva sabor uva, vida azul celeste, jardim de acácias, cheiro de café feito sem pressa, escada almofadada, travesseiro de pena, colchão d'água, música sussurrada nos dois ouvidos...

Pelos quatro cantos.

Diário de meia vida inventada.

Terça-feira, 13 de janeiro de 2009.

Levantou, procurou o cheiro pelos lençóis, calçou os chinelos de pano e seguiu até a cozinha.
Lembrou das caixas de chá que deixara para trás depois que seguiu viagem, abaixou a cabeça lentamente, sentiu vontade de voltar pra casa.


Mas já estava nela.


Quarta-feira, 14 de janeiro de 2009.

Levantou, achou o cheiro pelos lençóis, vestiu a camiseta que se via no chão da sala e seguiu até a cozinha.
Deparou-se com a mesa posta, tomada por xícaras de todas as cores falidas ou com vida, levantou a cabeça lentamente, sentiu vontade de voltar pra cama e sorrir.


E o fez!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Maldita (ou não) auto-afirmação!

Quase todas as metáforas, eu diria.
Ou talvez nada além de Amor.
Eu sou Flor!

E nesse tempo aqui, espantando os insetos ou chutando os ratos, vi surgir (de dentro dos bueiros) a multidão suja e egoísta. Até que resolvi caminhar um pouco mais.

Sou da casa sem gente vazia, do cheiro de erva cidreira.
Das mãos munidas de força, caneta, papel e, por favor, uma xícara de chá.


Mundo mudo e imundo, manda aí uma verdade, um dó menor e alguma poesia.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Relatos de loucuras de amor em vão.

(...)

"Já cheguei a tomar seis copos de feijão com geléia de mocotó no gargalo, já me joguei na frente do trem... Já até tomei dois frascos de tinta nanquim! Sem contar a cola de sapateiro que passei no sanduíche."