sábado, 25 de abril de 2009

A laica

Enfrentaria o mundo todo com sua espada, sem nenhum escudo que não o de bronze a reluzir pelos campos vastos, pelos pastos, sem sequer deixar rastro. Amanheceria na infantaria por entre os lençóis de todos os soldados e pela noite gritaria em alto tom, mas sem som, tal qual cinema mudo. Não por medo. Formosa que só, não se importa com nenhuma discrepância. Família nobre, porém fome, e não basta pão e circo. Ela se cerca sem ao menos precisar de arame ou jaula, fez fazer-se então deserto, dos mais quentes. Outrora o mar ela sugou com todo o seu balanço, o jeito particular com que titubeia.
Alta, magra e firme, sorri, exala todo o perfume.
Podre, esponjosa e amanteigada.


Engole todo o azedume.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cento e dezoito batimentos

Algo grande eu guardo aqui dentro, bem no centro, e há dias sinto uma imensa vontade de expelir. Como quem engole um bolo inteiro, e quente, como quem bebe qualquer agonia destilada, como quem nasce destinado a não viver. Cento e dezoito batimentos por milésimo de segundo, eu ainda nem conheci a metade do mundo, por isso não posso partir.
Seria injusto com aqueles que ainda não conheceram o meu sorriso. Desculpe-me, mas não suporto a falsa modéstia. Já que estou sozinha neste quarto, posso deixar vazar meus pensamentos egocêntricos sem me preocupar em incomodar o colega ao lado. Ultimamente estou seca. Sem mãos pra cima a agradecer, nem comemorar, nem aplaudir, muito menos de pé. Falta fé. Falta ferro. Cimento e tijolo. Animação só na hora do banho, espumas e bolhas e caras e escovas e águas a sambar pela pele... E escorre, escorre, escorre direto pro ralo. Um nome bem apropriado, eu diria. Eu ralo o dia todo, suo, luto, canso. Ah! Esqueci de comprar lixa de pé. Tô com alguns calos. Mas a ferida não nasceu em nenhuma feira dessa semana. Foi a gandaia de sábado a noite, dancei sozinha pela quadra inteirinha. Segurava a cintura, bem marcada pelo vestido curto e negro como a noite, ou como um dos meus eus, deslizava pelos cantos, na calada da noite calada. Só depois de muitas horas eu peguei os sapatos jogados na grama e segui sentido sentido nenhum.
E não é que de mim mesma arranquei meio sorriso? Pois é, e na manhã seguinte? Maldida gripe. Dia desses foi a enxaqueca que me acordou com a mais bela canção, bem ao pé do ouvido. Nada como um bom despertar! Café na cama, com chá, fruta do conde, café, torradas, manteiga, bala de caramelo, pudim, gelatina, tudo sem açúcar que é pra não engordar. Ganhei seis quilos, acredita? Nem sei como. Tenho tendência a inflar. Tenho tendência a morrer sozinha, a ser mãe solteira, a não dirigir bem, a ter artrite, artrose e arteriosclerose. Tenho que operar meus joelhos, que se moeram depois de suportar o peso. Imagina só... Operar, rasgar, sangrar, dar ponto. Ficaria meio sem sentido eu botar um ponto final aqui, prefiro as vírgulas.





Sempre preferi.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

E quem ousaria dizer um dia, o porquê de toda essa tirania? Poderia eu rir e somente rir pela dolorida falta de ar. Falta de ar é piada. Ah! Mas eles não sabem de nem da metade da barra inteira. Um, dois, três pedacinhos e olhe lá! O verão demora a chegar e enquanto isso, frio. Poderia eu rir e somente rir pela falta de calor, pela sobra de pudor. Mas não me aguento. Eu tento, eu cavo, cavo, cavo... Quando eu era pequena, jurava que por mais um pouco ia parar lá no Japão. Doce ilusão, a minha. Bem poderia ser verdade, não é? Hoje eu dia eu falo e ninguém acredita. Hoje em dia eu não amo. Só desfilo pelos corredores, olho os arredores... E pin! Nada! Nem um pingozinho de encanto, em canto nenhum. Pois bem, eu fico aqui. Aqui, ali, lá. Eu, meu salto, minha pose.

E a vontade.


Prazer, me chamo Rebecca Garcez, adoro poesias, vinhos, banheiras e sou um poço de sinceridade!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Espião espionado

(escrito em 26 de agosto de 2008.)

Um pequeno espião me seguiu e levou embora o que ele viu. O que se viu e se levou, voou, serviu de aviso pro espião desavisado, ora, faz-se louco, desvairado, ao olhar o tablado e perceber que não há ninguém a representar.

Mas a percepção é errada, tem areia, céu, e até estrada em um palco estreito, e o ator impõe respeito de lá de cima, ao dizer que sua rima saiu de dentro do seu eu.

Eu levei o pequeno inocente, frente a tanta gente, gente contente, gente carente, gente doente, e então ele saiu.
Correu, caiu, correu, caiu.

Não mais levantou.

Pois bem, eu esqueci o que não me convém.
E quem ficou, viu, viveu, entendeu, a história pra outro contou?

terça-feira, 14 de abril de 2009

A ante até após, com contra, de desde durante.

Meus dedos adormeceram, me obrigando a escrever no pergaminho da mente. De repente, eu apaguei. Já tinha cansado de mastigar todas as noites a mesma solidão. Alguém aí me dá uma nova? Se bem que solidão, uma ova. Eu vivo rodeada de vidas, amigos, amores. Mas ninguém no mundo todo há de suprir aquela falta. Pois então eu fico aqui. Aqui, ali, lá... Bebo até cansar, pra depois perder tudo pela pele, pelo pêlo, papel, pena. Que pena. Perdida na madrugada que eu não tenho, é só sol. Só sol. Maldita luz. Se ainda fossem duas ou três... Mas não! É só uma. Só a do sol. Só ele mesmo pra ser iluminado à essa altura do campeonato. E nem estou falando de futebol... Não ainda. Mas eu bem queria.

Analgésico também serviria. Antibiótico já não adianta. Sabe quando o corpo se acostuma com o veneno que escorre por dentro e se torna imune?
Igual ao meu assassino que ficou solto por aí, impune.

Amarelinha pra brincar eu bem queria... Melancia pra me lambuzar. Adjetivo pra qualificar. Escova pro cabelo, pentear. Música para aos ouvidos encantar. Advérbio pra intensificar. Gosto pro mundo todo saborear. Artigo pra definir. Cores e caras pra pintar. Conjunção pra me conectar.
Triste final, o meu.



A droga que eu preciso, esqueceram de inventar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mais relatos de loucuras de amor em vão.

(...)


"Fiz o palco do teatro pegar fogo por causa de algumas palavras, rasguei a roupa no meio da avenida, me joguei do abismo da Rua 14. Conversei meia hora com a Doida. Voltei pra casa sábado a noite.



Sem ninguém."

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Disparo de disparate

A ferida que coça, a água que dança pelos olhos cerrados, a mão e a bolha de sabão, a rima toante e a consoante, o fino fio roçando a ponta do nariz, a cutícula e o dedão, o mosquito e o dedinho do pé, o recheio da torrada atraído pelo chão, a velha cega e a padaria, a criança beirando as calçadas, o calo beijando o seu tênis novo, a neosaldina e a dor de cabeça. O espelho perdido na bolsa. A bolsa perdida nos braços. Os braços perdidos no vento. O vento perdido no tempo. O tempo perdido em mim. Eu perdida em meu templo, o templo perdido no mundo.



E o mundo perdido no fundo. Do poço.
O choro da criança, o riso do velho e a trapaça do moço...


Nada mais incomoda.



Fingir que quem corre é a avenida e não o carro virou moda.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pedante.

Partículas de poder partiram o peito do pobre perdedor que praguejava a pereba pequena. Posso perguntar o por quê?

Posso? Porque pedidos e palavras se perderam pelo palco. O porre de picanha e pistache perambulava pelo plágio paciente, pois no principio do meu período pacifico, o pássaro não tinha pena nem pêlo.

Era pura purpurina.