quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Retroexpectativa II

2010 foi o ano que plantei meus pés em terra fértil.

O primeiro minuto desse todo que agora nos deixa foi o início de todo o aprendizado. Há quem dispense as lições que se mostram na nossa cara, mas nunca fui de não valorizar o lado bom do sofrimento. Um beijo, um abraço, quatro olhos se encarando, transbordando verdade. Transbordando o sentimento mais amador do mundo. O amar. Começa o ano com um show da Blitz em copacabana. O mesmo amar, alguns meses depois, aprontou as malas e se foi, como quem usufrui do direito de ir e vir.

Como todo bom carioca, o ano útil parte de março.
Minha primeira aula de teatro foi no sexto dia. Ao pisar na sala de aula senti a certeza subindo pelas minhas pernas. Era exatamente a sensação que eu esperei a vida toda.

Em abril, depois de um súbito ataque de loucura na dona da república que eu morava em Niterói, fui mandada pra fora do quarto. Do quarto, da casa e da vida daquela mulher. Incrível como as coisas acontecem, como você questiona tudo o tempo todo, como você sempre está errado e como o erro é sempre certo.

Sem mais metáforas, em maio comecei a trabalhar. Meu primeiro emprego me fez ter muito mais do que experiência pro currículo, me deu presentes, pessoas e palavras que estarão no texto sobre o meu satisfatório 2011.

Junho sempre me faz nascer de novo. Essa foi a décima nona vez.

Em agosto, a doce Dulce nos deixa. Depois de ensinar as mais bonitas lições, de escrever dezenas de orações, depois das melhores cantigas de roda, depois de tanto me sentar na cadeira de balanço, às 6 da tarde, junto com o sino da igreja, parou de respirar. Mas de me cuidar ela não deixa nunca.

Agosto foi ao pé da letra, o mês do cão.
Agora sozinha, acolhida embaixo dos braços do Cristo Redentor, me sentia ainda assim descoberta. Sem amigos, sem família, sem eu mesma, a maior paixão da minha vida me levou até os melhores do Rio. São Paulo e Fluminense, maracanã, o apito indicava o começo do jogo. Jogo que dura até hoje pra mim. Conheci pessoas incríveis que me deram força pra continuar a caminhada.

Em setembro conheci um amigo incrível. Me pediram pra estar sempre por perto, pra que eu tente fazer uma ligação entre dois mundos completamente diferentes. Tento conduzir de uma forma confortável e sutil, sei que os dois lados já perceberam porque eu vim. E eu sei que vim e vou ficar.

Outubro e novembro de doce não tiveram muita coisa. Os preparativos pro final do ano já estavam a todo pano, quando nos mostraram uma doença rara e complicada em uma das raízes da família. Ao invés de desestruturar, fiz de tudo pra ajudar a família a se contruir de novo. Alicerces fortes e robustos é o segredo de toda a arquitetura.

O último mês do ano me deu o melhor presente de Natal. Pisar no palco, sentir o público, encarar, bater no peito, fazer com verdade, com vontade, com prazer e logo ouvir ensurdecedores aplausos. Aplauso? Por estar fazendo o que mais me deixa feliz? Aplauso pra... mim?

Um aplauso pra vida, plena e sempre certeira. Que faz o errado necessário pro nascer do próximo acerto.
Que faz a dor se transformar em felicidade num piscar de olhos. Que faz do amor, ódio. E desvira de novo essa camisa. Que recicla as relações, as pessoas, os dias.
Que nos permite tentar de novo.

Então vamos lá, tentar fazer tudo perfeito mais uma vez.
Em 2010 eu só plantei.
Agora é hora de começar a colher.



Um bom ano, uma boa vida.
Rebecca Garcez



Agradecimentos:
Família Strachan, Fábia, família Marquez, Paulo Henrique Motta, Juliana Valin, Madjer Geanini, Victor Afonso e toda a turma de Iniciantes I do Curso de Teatro Zaira Zambelli, Maíra Duque, Tainá Scharra, Pedro Hilário Dantas, Felippe Gomes, Agatha Galvão, Francis, Raphael Castro, Lucas Zanini e todo o pessoal da cmm, ao Fluminense, por me dar momentos de felicidade extrema e por me ligar a pessoas tão incríveis, Isabela Herig, Thamires Vasconcelos, Jéssica Santos, e a toda a minha família. Vocês foram primordiais pro sucesso desse ano que passou. Meu apoio e amizade à vocês, sempre.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Essa sou eu. E esse é meu mau humor quando acordo.
Odeio essas paradas de meia hora que os ônibus fazem em Resende. Nunca sei se fico esperando, encalorada, do lado de dentro, ou se saio pra ir ao banheiro cheirando à pinho sol.

Saí. E daqui de fora me vejo lá. Essa sou eu.
Descabelada e sem motivação nenhuma pra arrumar os cabelos. Não tem ninguém interessante por aqui. Quando digo ninguém englobo uma quantidade enorme de pessoas num raio relativamente pequeno. Desde quando larguei tudo o que tinha na lixeira numa quinta, que é quando a Comlurb passa na minha rua recolhendo o lixo, me bateu uma canseira do mundo... E não me arrependo, não.

Os espelhos desse banheiro sempre me agradaram bastante, mas agora eu quero é mesmo que se espatifem, em milhares de pedacinhos. Lavei as mãos como quem tem a remota esperança de ensaboar os problemas e vê-los escorrendo pelos ralos junto com a imundície que carregava entre os dedos. Fui me arrastando até a banca de jornal onde paquerei meias manchetes. Tricampeão. Sorri. Sorri e me arrepiei dos pés a cabeça, lembrando da emoção ao ouvir o apito. Ao piscar os olhos já voltei pro chão que piso. Piso e sinto o peso da carga.

Talvez eu esteja cansada.
Com certeza é cansaço. Eu costumo não ter a percepção do que vem de dentro mas dessa vez foi um pouco diferente.

Essa sou eu. E essa é minha falta de fé quando me importo.
Tentei me pescar de volta, mordi a isca. Mas o pescador, que era eu, resolveu me desprender e soltar de novo no mar de nada.


Mas nada!

Mais nada.


sábado, 27 de novembro de 2010

"Eu costumava ser intensa. Não era um dedo da falta de ser que sou hoje.

Vou contar meu segredo pra esse enorme espaço vazio. Eu odeio salto. Eu odeio parecer igual a todas aquelas meninas. Eu tenho nojo de gente rasa. Detesto parecer normal, não transparecer...

Eu escrevia cartas! Cartas pra pessoas que eu não conhecia! Enviava pra qualquer cep em enormes envelopes coloridos. Era incrível a felicidade da pessoa que recebia.
Aos 16 me afogava no sofá da sala ouvindo Death Cab.
Adorava abraços.
Hoje em dia eu fujo deles. E se me dão eu choro. Choro por vergonha só de me imaginar chorando, e o desespero sobe pelas minhas pernas, tento fazer força pra engolir o que quer fugir de dentro, o pouco oco que resta, mas é sempre impossível.
E assim me acabo a cada gesto de carinho.

Eu costumava sentir sem medo. Não tinha um pingo do controle que me freia hoje.

Vou cantar minha verdade pra esse imenso eu que sei que escondo aqui dentro. Eu não culpo ninguém. Eu não culpo nem os ciclos. Eu fui avisada. Muito bem avisada. E preciso me resgatar o quanto antes.
Vocês não me conhecem. Nem eu me conheço mais.
Respondam rápido:



É melhor apanhar do sentir ou viver sem amar?"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

E virou um monstro.

Depois de tantos tapas, de tantos beijos, de tantas faltas
Depois de tantos almoços, casa, canto, de tanta mão
de tanto ombro, encanto, peito e coração.
Depois de tanto sim.

Depois do desamor
e daquela última carta-resposta
Depois da nota, do tato.

Depois dos doze adeus.


Eu virei um monstro.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O clima era o mesmo de sempre. Péssimo! A diferença era o lápis apontado. Bem apontado. Nossa, como eu amo lápis bem apontado. Com certeza está na lista de coisas idiotas que fazem toda a diferença. Igual sentar do lado esquerdo do ônibus.
A lamparina fazia sombra no topo do lápis, ficava ruim pra enxergar. Mas a ponta bem afiada compensava.
Sentou na mesinha em frente a entrada. Os velhos chegavam tirando fotografias. Será que estava em um lugar histórico e não sabia? O gordo de verde encostado na porta do banheiro responde. A cara feliz e as pernas inquietas condenavam o nervosismo.
Sinceramente eu nunca fui de escrever contos. Relutei até resolver pegar o caderno pra rascunhar. Hoje eu estou pra conversa! Peguei o celular pra passear pela agenda sempre começando pelo Z. Estava dormindo. Pulei pro R que não atendeu, depois pro F que ainda não tinha chegado da faculdade e quase me rendi a letra G, já girando o apontador, nessa altura do campeonato a ponta ficara levemente arredondada.

Eu estava em verdade ansiosa. Ociosa. E odeio chorar por pouca coisa. Vai falar que eu não to na merda?

Canceriana, atriz, escritora, colesterol alto e tricolor. Um combo que nasceu junto comigo literalmente pra me matar do coração. Mas não dispenso nenhum desses traços que não o colesterol.



É genético.

Juro que evito fritura.

Ensaio sobre a visão

Deveriam fazer de mim um rei.
Não digo rei, mas ao menos um vidente.
Sou de fato sensitivo, não gosto de nada tão restrito, vivo a te imaginar...

Se eu tivesse visto meia pontinha do seu mundo, te entregaria uma bandeja e um prato fundo de vivência.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu sou feita de todos os pecados. Não, de todos não... Só dos piores.


Engoli seco quando saí de casa hoje pela manhã. Ao atravessar, um caminhão quase me junta pra formar uma só. Por meio centímetro não me lasco! É, pois é... Eu sou muitas. Sou tantas que perco a conta. Não queria que fosse dessa forma, poderia ser constante do início ao fim mas essa teoria me parece um tanto quanto falha (e olha que falha me agrada bastante!). Eu sou muitas. Sou uma pra você, uma pra ele, uma pro ex, uma pra amiga, uma pra mãe, uma pro espelho do banheiro, eu sou muitas. Sou muitas pra mim.

E não ando dando conta.

Não ando dando conta das contas, do trabalho, dos ensaios, de todo o esforço físico, ser tantas assim me cansa. Tentei ir à missa, dobrar os joelhos, suplicar qualquer dádiva, mas acho que Deus preferiu rir de mim, de lá de cima. Não por deboche, longe dele! Deve ter me confundido com outra de mim.

Não ando dando conta.

Não ando dando conta dos cantos, das verdades, das saudades, de todo o espírito, ser tantas assim me cansa. Tentei recuar, me dobrar em posição fetal, desmembrar uma perda, mas acho que eu preferi rir de mim, daqui de dentro. Não por deboche (deboche também me agrada bastante!), mas por descrença. Devo ter me perdido por aí. Mas garanto que falta não faço.




Eu sou muitas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Eu levantaria as mãos pro céu pra agradecer se minha vida não fosse esse monólogo. Dentre os dias, todo dia, eu ando a me encontrar. Mas é só.

É sempre só que eu me vejo quando olho para o lado.

Não pense que não me agrado! Se tem alguém com quem eu me dou bem é comigo mesma. Às vezes me pego a discutir, é verdade...
Bom, na maioria do tempo a convivência até que é digerível.


To me saindo bem melhor do que eu imaginava.
Mas eu levantaria as mãos pro céu pra agradecer se minha vida não fosse esse monólogo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Conversa de cachorro-quente

Uma cebola picada, três dentes de alho bem amassados - os maiores da cabeça -, dourando em algumas colheres de azeite... Ah, e o aroma? Alecrim e salsinha é o segredo. Extrato de tomate enquanto a salsicha vai descogelando. Quando o molho começar a espirrar, pode desligar o fogo. Pão careca, batata palha, ketchup e mostarda. Ele também gosta de queijo.
Suco de maracujá!
Sentaram.


Deve ser legal ter pai, né?
Eu tive por 17 anos.
É legal ter pai, né?
Eu só tive por 17 anos.
Eu já vi gente que tem pai.




Deve ser legal ter pai... Né?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Da série "Escrevi mas não mandei"...

"Eu sempre fui melhor escrevendo do que falando, e quando você pergunta se não tenho nada pra falar, eu respondo que não. A certeza é quase sempre absoluta, mas a verdade talvez nunca seja. É surreal como a essência vai sendo esquecida, é sempre assim, eu sei porque já vivi muito isso apesar das pessoas sempre saírem falando ou pensando que eu nunca vivi nada. Pode acreditar em mim. Os começos são sempre iguais, cheios de amor, poesia e sacrifício. Esses três ingredientes da fórmula do namoro perfeito acabam se transformando em outros, não sei se rola uma reação química, nem se a física explica, só sei que eu namorei muito na vida pra tentar descobrir por que a balança sempre pesa mais de um lado, por que a corda sempre arrebenta, por que ninguém consegue abrir mão da própria bolha... É tão mágico quando você divide o seu eu com outras pessoas. Você devia experimentar."


Claro e simples, como tudo de bom que há.
(sexta-feira, 14 de maio de 2010 23:40:05)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mais relatos de loucuras de amor em vão.

"Boa tarde, doutor... Desculpa espernear pra me encaixar na emergência, mas é que tô meio doente. Sabe, doutor, eu tô cansada de me foder, literalmente, "o amor é uma dor", e o senhor já deve saber. NÃO, não fala alto assim não, não briga comigo, eu sou de câncer, e fácil fácil já me irrito, mas não que seja por isso, é dor de cabeça mesmo. Aquele negócio de enxaqueca, até muita luz na minha cara me deixa meio bolada, por isso vim com esses Ray Ban que ganhei de aniversário de um ano de namoro. E eis que chegamos ao ponto exato. Sem desacato, longe de mim, mas aquele safado, ordinário, me botou pra fora da vida porque cansou do meu amor. Vê se pode, doutor... Tanta gente aí querendo uma mulher dedicada igual a mim pra passar a noite... Fazia de tudo, doutor... De café na cama a massagem no pé. Cortava até a unha depois do futebol. O que que eu fui? Fala mais alto! Idiota? EU? Por me entregar? O senhor deve ser mais um desses que abusam da boa vontade da esposa. Olha, não pode ser assim não... Nem parece meu terapeuta. O senhor tem dois filhos lindos, os meninos são uma graça mesmo... Sua esposa tá sempre por aí cheirosa, de prontidão caso precise de alguma coisa, aposto que nem cobra o senhor nas compras de mês. A presença, eu digo... O monetário já é complicado... Aí sim, doutor, é ser idiota. Mas voltando ao assunto, teve um domingo que eu saí de casa cedinho pra fazer a feira e me deparei com a beirada do mundo, quase que caio e me afogo, porque sem bóia eu não sei nadar não, imagina... Ali na lagoa, de bicicleta eu sempre vou pela contra-mão, adoro uma aventura. Se por acaso o senhor tiver um amigo disponível, pode promover a interação entre sua paciente preferida e o mais novo porco chauvinista que eu vou ter que aturar.
Tudo bem então, pois comece a anotar... Minha última novidade é que cheguei a tomar seis copos de feijão com geléia de mocotó no gargalo, me joguei na frente do trem... Dose cavalar de tylenol DC engolidos com a ajuda de dois frascos de tinta nanquim! Fora a cola de sapateiro que passei no sanduíche..."
"Eu sou uma mulher sinistra, aqui no meu canto eu faço tudo pegar fogo. Sabe como é, né... Intensidade me sobra, precisam ver o meu show como é visceral, é víscera pra tudo que é lado, fico a imaginar os corpos se explodindo e sobrando intestino na direita, fígado mais pra esquerda, vou montando. Mapeio direitinho pra banda não se espatifar. Eu canto, eu canto e sou sinistra. Uma vez falei amor no microfone e todo mundo saiu correndo, precisa ver...
Acho até que as pessoas me imaginam tomando banho numa banheira daquelas bem antigas, cheia de sangue transbordando.
Eu me enforco fácil com os dias. Ih, não tenho muito tempo pra você não, nem vem atrás. Eu vou é buscar qualquer coisinha ali no centro só pra perceber qual é a do trânsito hoje. Tomei um tapa de um molequinho sexta passada, ouvido zunindo o resto da noite, sorte que me perdi na night e nem liguei, tomei umas, umas duas, três, acho que umas seis... Fiquei lóki pela Lapa sozinha, nem ligo, isso é ser alternativo, não é não? Fora a calça apertada... Mas aí, se quiser ir lá qualquer dia, o meu apartamento é aquele que tem um buda bem na entrada porque eu acho buda sinistro..."



E enquanto ela achava que andava pra frente, eu ficava atrás, só rindo, só.

sábado, 28 de agosto de 2010

Eu me sinto um câncer aqui. Hoje eu sai andando trêmula pela Voluntários, peguei o primeiro ônibus que vi, afobando, saltei no próximo ponto 400 metros depois e dentro desses 400 metros parecia que quem andava era a rua, eu parada, infértil, sem lar e sem casca, via tudo acontecer da janela. As pessoas nos botequins me encaravam vazias e a caspa da minha cabeça me deixava ensanguentada diante da sobra da borda da pizza.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

E soluçando, desarmado, soltou um fio da sua sanidade: "Um dia eu mato o desgraçado que inventou essa modinha ridícula de querer comparar amor como se fosse exposição do canal do boi."

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A parentada

Um frango, dezoito cabeças.
Um cesto de roupa suja habita em mim. Dias chuvosos tomaram minha semana e o máximo que consegui foi deixar tudo de molho. Não suporto mais a sujeira da rua emplastrada naquilo que me veste.
Me perdi noite passada naquele frio, uma rajada foi o suficiente pra me despertar de um sonho bom, onde tudo era feito com vontade. Onde tudo era uma simples verdade. Acordo, desnuda, aflita, procurando sempre alguém do lado direito.


Mas me falta força e talento pra lavar 8 quilos de roupa suja.
Maldito apego que me puxa pra trás. Maldita paciência, maldita espera.
Maldito descaso, amor escasso, descompasso que toma conta da minha esfera.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Plano B

Não aguentei ver Alana daquele jeito, estirada na areia da praia a sufocar. Precisei chegar mais perto e tentar arrancar alguma palavra de minha própria boca, porque era eu quem padecia diante daquela cena amarga. Me lembrei do dia em que ela cozinhava e em tudo botava azeitonas sem caroço, cada gororoba que no final deixava um gostinho bem suave, como quem sente saudade. Me abaixei e ouvi meu joelho esquerdo a reclamar, mania essa, minha, de não querer tratar. Desci o ouvido bem perto de seu peito, mesmo sabendo que qualquer coisa que ela guardasse lá dentro ainda se via a apitar. Não sei o porquê da esperança, nem sei se tinha, se podia, se esperava. O ideal seria uma segunda chance... E olha que eu odeio toda segunda chance! Mas nesse caso cabia. Depois de todo o descompasso, o embaraço e aquele início sem meio nem fim, só me remetia a uma única coisa: Alana adormecia sem mim.

Isso jamais seria aceitável!
(Eu projetava a voz pelo espaço como aquele velho ator torto, surdo e impuro).
Depois de anos morando na Avenida do Eu Te Amo, me deixar solto pra qualquer inseto vir e me picar? E a alergia?





Querem mesmo saber?
Eu é que não fico aqui, infeliz, vivo e ao mesmo tempo, extinto.


Cansei de rimar alergia e alegria.

domingo, 25 de julho de 2010



Eu queria. Eu juro que queria.
Mas pra mim parece sempre vazia...

Sempre vai ser assim, como é, e não como eu queria.
Vai ser sempre vazia.

Show bar

Vim aqui compartilhar do meu desespero.
Eu gosto, eu gosto de sentir esse cheiro, mas não é de hoje que procuro cheirar outros cantos, pra não enjoar. Então eu me viro, olho, olho e me desaponto, como se esperasse encontrar alguém ali atrás.

Vim, na verdade, contar meu novo sonho.
Essa noite me custou a passar, passados que foram derretidos voltaram a me assombrar, me vi presa entre seis ou sete vidas, como um gato de rua e suas feridas. Então eu me pesco de volta, como se esperasse encontrar uma minhoca na isca.

... Vim abraçar o saudosismo.
Nesse exato minuto eu me lembro de quão inocente e amante eu me mostrava, ao mesmo tempo arranhava meu próprio pescoço, sem notar que era eu quem sangrava. Então eu subia no balcão, como aquela putinha alternativa a se mostrar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Exclamava olhos de desistência
Amargava a boca e o figo da semana passada
Engolia a plenitude que lhe faltava e escarrava a boa vontade ingerida no café da manhã.

Desossava o passado como se margarida fosse,
expremia a ferida e dois goles de tinta nanquim talvez bastasse.


Como se tudo fosse digerível...
Como se intuito, poesia e coração, fosse dirigível.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Acariciei minhas bochechas.
Nunca estiveram tão geladas...
Só agora eu entendo que o que eu não tenho, eu não tenho porque na realidade eu não quero.

Duas mãos, um coração e uma ferida.


Me definir nunca foi tão fácil.
E o pior é que ainda não acaba nessa vida.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sempre fui esse grito interno que vive a ecoar enquanto sinto. Sinto e muito, tanto que quando digo é por saber, qualquer dois ou três se somam em qualquer divisão mas nem sempre dá dízima, o que é incrível, se for parar pra pensar.
Tem dias que me bloqueio, tentando puxar pra mim o que fica lá na frente, ou o que eu acho que fica. Criei uma proteção ao que é descartável. Uma capinha, uma cápsula, um colete a prova de balas pra amortecer quando atirarem em mim. Senti, dia desses, a bala atravessando minhas pernas enquanto eu caía e tentava alcançar qualquer coisa segura. Não achei nada.O final vocês já sabem, tudo sumiu sem deixar meio indício.


Totalmente diferente de todos os inícios.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Eu já devia saber dos começos... Sempre tão equilibradamente perfeitos, metrificados, desmedidos, intensos e eternos.


Até chegar o meio.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"é incrível como as vezes eu sinto frio. há noites eu sinto frio... e talvez nem seja pela chuva que lavou o rio. é cru, no duro, frio. eu juro que não entendo, eu cavo, cavo, poço adentro e sempre me encontro lá, procurando um pé da bota que tirei pra entrar em casa. bem me lembro como era rasa a vida. engraçado que continua sempre rasa e eu sempre intenso sempre tentando ser mais do que sou e sempre acabo não sendo nada além do que fui dia desses.

eu olho pro lado e não vejo ninguém
eu olho pra frente e não vejo ninguém
surreal como a gente se sente sozinho quando o frio entra e só sobra você, o pires sem a xícara, a xícara sem chá, o chá sem açúcar e o açúcar... sem sal."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Engolindo a mim mesma, cavando nesse imenso e profundo mar de nada, esqueci ali fora dois botões. Talvez fossem da minha saia. Devem ter descosturado enquanto eu costurava minhas noites. Não é possível, devem ter desligado meu aparelho, não me vejo mais a respirar. Vou aprontar as malas, o trem parte depois do próximo apito. Abri o zíper, devagar...

Guardei um pedaço de renda, um cadáver de cigarra, ar.
Guardei doze xícaras quebradas, um pouco de torta, mar.
Guardei aquelas cartas, aquelas, fartas, par.
Guardei o escárnio e o maldizer.
Guardei a tristeza e o querer.
O deleite, o descaso e os traços.
Guardei o ir e vir.




O ir, o vir, e o ficar.