quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Soalheira

Andei andando em cima do telhado, queimando meus passos por causa do calor do sol, queimando minha vida pela falta da chuva, cozinhando pensamentos crus, fritando os olhos fartos.

Andei perseguindo a sorte, e quem me perseguia, desesperadamente, era a morte.

Fugi, chorei a perda da defesa, revivi o dia do acidente.
No bolso, a caixa de fósforos.
No nariz, o cheiro da gasolina.
Nos ouvidos, uma canção infantil.
Quem tem medo do lobo mau?

Dia desses eu conheci um santo, ele passava pela rua estreita numa calmaria, até me ver naquela agonia contínua.
Olhou pro céu pra agradecer e viu que alguém estava quase a padecer, resolveu levantar as mãos pro alto, pra tentar alcançar o inalcançável, pra tentar aliviar a carga que eu, pobre, carregava.

Minutos depois veio a menina da inveja nos olhos, da raiva nos calos, me olhou e sorriu, sumiu.
Mas não podia deixar pra outra vida, murmurou meias palavras, depois se trancou em seu inferno.

Eu via tudo dali de cima, eu percebia...
que a luz e o calor são trazidos pelo Amor
E roubados logo em seguida com a partida da minha vida...


E com a chegada da minha dor.

2 comentários:

Tiago Faller disse...

HOHO! Bom achar seu blog, menine que escreve tão bem.

Agora que achei, passarei sempre por aqui. =)

=**

Raphael C. Hosken disse...

Muito bom seu blog,gostei de seus poemas!Parabéns!