sexta-feira, 18 de março de 2011

Foi, de todos, o primeiro a me estender a mão. Abriu o sorriso, sempre cortês, pediu permissão. Costumava aparecer depois das cinco pra me acompanhar assistindo a novela. Jantava e eu o levava até o portão. Rotina nunca interrompida até o vigésimo sétimo mês. Comemoramos com um jantar a luz de velas e desgosto de sobremesa. Depois que pisei no penúltimo degrau da escada senti forte sua mão a me sufocar. Apertava com força e me pedia pelo amor de Deus pra não gritar. "Eu prometo que não vai sentir, eu prometo, vem quietinha, não me complica..." e ria, achava que eu ia gostar. De resto, me lembro da gota quente que escorria pela maçã do rosto, do gosto salgado dessa única lágrima que desceu morrendo de medo de fazer algum barulho.

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