sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cento e dezoito batimentos

Algo grande eu guardo aqui dentro, bem no centro, e há dias sinto uma imensa vontade de expelir. Como quem engole um bolo inteiro, e quente, como quem bebe qualquer agonia destilada, como quem nasce destinado a não viver. Cento e dezoito batimentos por milésimo de segundo, eu ainda nem conheci a metade do mundo, por isso não posso partir.
Seria injusto com aqueles que ainda não conheceram o meu sorriso. Desculpe-me, mas não suporto a falsa modéstia. Já que estou sozinha neste quarto, posso deixar vazar meus pensamentos egocêntricos sem me preocupar em incomodar o colega ao lado. Ultimamente estou seca. Sem mãos pra cima a agradecer, nem comemorar, nem aplaudir, muito menos de pé. Falta fé. Falta ferro. Cimento e tijolo. Animação só na hora do banho, espumas e bolhas e caras e escovas e águas a sambar pela pele... E escorre, escorre, escorre direto pro ralo. Um nome bem apropriado, eu diria. Eu ralo o dia todo, suo, luto, canso. Ah! Esqueci de comprar lixa de pé. Tô com alguns calos. Mas a ferida não nasceu em nenhuma feira dessa semana. Foi a gandaia de sábado a noite, dancei sozinha pela quadra inteirinha. Segurava a cintura, bem marcada pelo vestido curto e negro como a noite, ou como um dos meus eus, deslizava pelos cantos, na calada da noite calada. Só depois de muitas horas eu peguei os sapatos jogados na grama e segui sentido sentido nenhum.
E não é que de mim mesma arranquei meio sorriso? Pois é, e na manhã seguinte? Maldida gripe. Dia desses foi a enxaqueca que me acordou com a mais bela canção, bem ao pé do ouvido. Nada como um bom despertar! Café na cama, com chá, fruta do conde, café, torradas, manteiga, bala de caramelo, pudim, gelatina, tudo sem açúcar que é pra não engordar. Ganhei seis quilos, acredita? Nem sei como. Tenho tendência a inflar. Tenho tendência a morrer sozinha, a ser mãe solteira, a não dirigir bem, a ter artrite, artrose e arteriosclerose. Tenho que operar meus joelhos, que se moeram depois de suportar o peso. Imagina só... Operar, rasgar, sangrar, dar ponto. Ficaria meio sem sentido eu botar um ponto final aqui, prefiro as vírgulas.





Sempre preferi.

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