Destilei minha piedade. Gritei. Ela abriu os olhos.
Continuei arranhando o antebraço, pra que sentisse minhas unhas afiadas. A mordaça começava a sufocar. Abafadas, as súplicas não me pareciam audíveis. Que pena.
Vai ter que continuar amordaçada, sem dizer o que precisa. Você não diz o que sente, não pode. Não me venha com esse ar de gente que sente. VOCÊ NÃO SENTE. Não aprendeu o que ensinei, é isso que acontece com quem não faz lição de casa.
Lembrei da lança de cobre afiada exposta na sala, porque eu gosto de ostentar. Doze passos daqui até lá. Encarei aquele rosto, macio, os cabelos cheirando a romã. Saí me enroscando por entre as paredes, por entre as lembranças, me enroscando até chegar onde eu queria. Agora faltam sete. Me curvo diante do que me parece reverenciável, diante do sangue, da dor, da lágrima quente que escorria daqueles olhos castranhos. Não me dei por satisfeito, ela estava quieta demais. Ameaça é coisa de gente fraca. Inocente. De gente que sente e acorda com a certeza de que todo mundo sente a mesma coisa... Idiotas. A ferida aberta da perna direita me chamava atenção. Não pude resistir, precisava cavar a dor, precisava fazer com que ela soubesse da metade do que passei depois que fechamos a caixinha de música. Fiz duas cicatrizes nas maçãs do rosto, bem fundas.
Que é pra ela nunca me esquecer.
2 comentários:
Sempre surpreendendo! Usualmente dou uma passada por aqui. Preciso ver como anda o blog correlativo da letra que fiz, e fico assim cada vez mais orgulhoso. Você está escrevendo cada vez melhor de modo que um post é um convite a ler o próximo. Além de muitas coisas que gostei deste, uma me chamou a atenção e me fez lembrar do famigerado shampoo de romã e consequentemente: R O M Ã - A M O R
O, palíndromo de incrível sensibilidade ;)
Continue orgulhando a todos,
Beijos
Fê Li pe
ep il ef
droga, não é palíndromo =( euheue
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