quinta-feira, 29 de março de 2012

Ao contrário da postura que costumo adotar quando sinto o escrever, não vou colocar qualquer música que me acalante pra expelir essa escrita. Na verdade isso nem é uma escrita. Isso é um cuspe. Um cuspe no chão. Um cuspe na sua cara.
Você puxa um banco pra sentar. Você senta pra falar e ao sentar já começar a ordenar com as mãos. Ordenar como se vive. E não digo ordenar como quem coloca ordem. Digo ordenar como quem impõe uma forma de vida que na realidade não me pertence, não pertence a ele, a ela, a ninguém. Só pertence a você e ao raio de 1 metro que te cerca. Performance mal ensaiada do início aos agradecimentos, aos créditos, ao enchimento de linguiça e do seu ego; acha que transpassa pra qualquer um todo o qualquer que você é. E o pior é que funciona. Cansei de ouvir que não enxergo o que é enxergado por você e sua percepção aguda, e cansei de ouvir mesmo, eu só ouvia. Ouvia, ouvia, ouvia porque de fato você nunca mostrara quem realmente é por trás de toda a sua casca.


Cuidado porque uma hora o casco quebra. E o que sobra é só cascalho.






"Vai pro caralho!"

terça-feira, 13 de março de 2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

Carta ao pai

"Pai, o senhor hoje recebe esse substantivo sem tê-lo merecido em nenhum dos dias em que se levantou da cama. Passei toda a minha minúscula vida me perguntando o motivo de toda essa repulsa, pesquei no íntimo de minha amada mãe qualquer justificativa pouco plausível pra me (te) aliviar. Depois de uma conversa de bar, onde eu bebia copos e copos descartáveis de cerveja barata me vi vivendo um dia ao seu lado. Só eu e você. Engraçado que nunca tinha pensado nisso até que me dei conta de quão inimaginável essa cena se torna. Não te conheço. Não sei o que faz da vida. Não posso nem cogitar o que faz no almoço de domingo, com que gasta seu dinheiro, como se diverte, onde consegue seu fumo, como sua mulher te trata e como ela é tratada. Se o cachorro faz no jornal. Não sei se sabe cozinhar, e se cozinha, não sei se tempera seu frango com limão ou curry. (Caso cozinhe, experimente curry no arroz.)

A terapeuta passou uma lição de casa. Caminhar até o advogado, comprovar que sou obra de seu esperma, entregar cópias de documentos comprovando que sou de fato uma obra, onde resido, qual a sequência de números que me representa, pro advogado levar pro fórum da cidade e depois disso não sei qual é o procedimento legal. Só sei que você vai receber uma carta. Não essa. Outra. Uma carta chamando você pra conversar comigo por algumas horas, minutos, talvez. Depois dessa conversa uma parte do seu salário que nem sei se tem vai ser destinada a mim todo mês.
Acho que a terapeuta quer te mostrar que eu nasci, não sei... Mas vem conversar comigo.

Prometo não fazer birra, pai."

domingo, 11 de março de 2012

É duro, José
é duro ir, vir, ficar
é duro passar o dia inteiro em pé
raspando a unha no corrimão
demente, doente, corpo são