terça-feira, 28 de julho de 2009

Dei duas voltas e meia ao redor do mundo em apenas três segundos, mergulhei no infinito, fundo, imaginei o mar passando por todos os sete pontos de um corpo torto. Virei a xícara cheia de chá, cheia de choro. Sentei no caco de vidro, dormi na parte de dentro do sapato de vinil, lá fora chovia qualquer coisa, menos chuva, desmanchava o enfeite feito de fita de cetim número um, daquelas que vovó usava pra arrematar o enchimento de filó enquanto ensinava o bê-a-bá.

Dei duas voltas e meia ao redor do mundo em apenas três segundos, brinquei de pique-esconde com o vizinho da frente, cego, segui pela avenida principal, que dá lá na feira, eu nunca vi lugar com tantas cores, nunca vi cidade de tantos amores. Lembrei daquele cheiro, acordei na beira do banco, dancei com as estátuas da fonte, vi nascer o sol sozinha, penteei os cabelos longas vezes, vesti a saia longa com guipir, daquelas que vovó costurava com todo o amor que há.

Dei duas voltas e meia ao redor do mundo em apenas três segundos, escalei o muro de pedra (bem acho que aquela casa é mal assobrada, igual a mim), chutei noventa e cinco pedrinhas até chegar no ápice da minha loucura. E não culpo bebida, homem ou escadaria. Eu culpo a corda-bamba, que balança, balança e não derruba quem tá lá em cima grudado, cantando alto suas milhares de contradições, escarrando gengibre vencido, esfarelando o paletó com pá.

Cuidado!
Qualquer dia acaba a corda, o couro e o pescoço.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nem sei por onde começar. Prefiro começar pelo final, que é pra saber certinho por onde passar. Cansei de falar de amor, de acreditar. Cansei de acordar. Há tempos não acredito que vou mudar o mundo mudo, vontade sobra, mas força... Ah! Essa aí tá em falta no meu almoxarifado.
Levanto com saudade de deitar, deito sem saudade de levantar. Mas uma hora o joelho dói de tanto ficar dobrado. Posição fetal, posição fetal, posição fetal.

sábado, 11 de julho de 2009

Segurando um caderno preto fosco, engolindo saliva maldita, caiu na esquina depois de tanto beber a angústia que me servira no bar. Eu bebi, sequei os lábios com a manga da camisa social listrada, e olhei naqueles olhos espumando escárnio e talvez até o maldizer. Dançava fingindo ter um pingo de lirismo na cara, mas mal havia meia canção de amigo. Eu bebi, suguei as gotas pálidas com o amor que sempre carreguei por dentro até fazê-las secar, sorri para aqueles lábios encarando a covardia sem querer a ninguém mostrar.

Atuando "Treze cerejas doces", rezou antes de pisar no picadeiro porque aquilo bem era um circo e só eu sabia. Só eu ria ao ver que a platéia era papelão e de papelão se fazia a peça. E uma peça era justamente o que faltava ao trovador. Tinha mãos, pés, chão mas faltava terra pra pisar e amassar. Pra sentir, pra moldar. Cheirava a vodka rala que não tomava. Cheirava a lágrima vazia que não soltava.


Cheirava a mentira e a falsa humildade que pregava.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Já não diz coisa com coisa... E toda aquela coisa de coerência textual, foi embora no seu palco quebrado.
Cadê sua arte?
Depois de muito pecar sem poder ver, e não querer o confessar, ora, vergonha do padre é que não era, porque padre era pedra, logo ali no seu chuveiro se banhava, deixava de viver a vida só pra te ouvir.
Mas só ouviu você partir.
Cadê sua arte?
Porque pecar da cena ao encarte, sem nem ousar perguntar pra onde ia todo o dia, depois que sol dormia, traçava as estrelas no céu do quarto, nascia, todavia, após o parto, ligava pra churrascaria e pedia batata frita, farofa e feijão, uma coca de 2 litros e comia sozinho, deitava sozinho. Bagunçava os lençóis pra ficar mais quentinho e escrevia rente ao chão, rabiscava o rodapé com caneta bic vermelha de tampa mordida. Dois nomes, um coração e uma ferida.
Algema a si mesmo no marasmo, no descaso e no torresmo que tá embaixo da sua lama.
Cadê sua arte?
Se escondeu de tanto que você se partia e parte.
E a mim não engana.


Não mais.
Sem você no seu lado da cama meu mundo gira em paz.

domingo, 5 de julho de 2009

Arranho, arranho, e não sai nada.
Ou encontrei a felicidade plena, ou eis aqui o fundo do poço.