2010 foi o ano que plantei meus pés em terra fértil.
O primeiro minuto desse todo que agora nos deixa foi o início de todo o aprendizado. Há quem dispense as lições que se mostram na nossa cara, mas nunca fui de não valorizar o lado bom do sofrimento. Um beijo, um abraço, quatro olhos se encarando, transbordando verdade. Transbordando o sentimento mais amador do mundo. O amar. Começa o ano com um show da Blitz em copacabana. O mesmo amar, alguns meses depois, aprontou as malas e se foi, como quem usufrui do direito de ir e vir.
Como todo bom carioca, o ano útil parte de março.
Minha primeira aula de teatro foi no sexto dia. Ao pisar na sala de aula senti a certeza subindo pelas minhas pernas. Era exatamente a sensação que eu esperei a vida toda.
Em abril, depois de um súbito ataque de loucura na dona da república que eu morava em Niterói, fui mandada pra fora do quarto. Do quarto, da casa e da vida daquela mulher. Incrível como as coisas acontecem, como você questiona tudo o tempo todo, como você sempre está errado e como o erro é sempre certo.
Sem mais metáforas, em maio comecei a trabalhar. Meu primeiro emprego me fez ter muito mais do que experiência pro currículo, me deu presentes, pessoas e palavras que estarão no texto sobre o meu satisfatório 2011.
Junho sempre me faz nascer de novo. Essa foi a décima nona vez.
Em agosto, a doce Dulce nos deixa. Depois de ensinar as mais bonitas lições, de escrever dezenas de orações, depois das melhores cantigas de roda, depois de tanto me sentar na cadeira de balanço, às 6 da tarde, junto com o sino da igreja, parou de respirar. Mas de me cuidar ela não deixa nunca.
Agosto foi ao pé da letra, o mês do cão.
Agora sozinha, acolhida embaixo dos braços do Cristo Redentor, me sentia ainda assim descoberta. Sem amigos, sem família, sem eu mesma, a maior paixão da minha vida me levou até os melhores do Rio. São Paulo e Fluminense, maracanã, o apito indicava o começo do jogo. Jogo que dura até hoje pra mim. Conheci pessoas incríveis que me deram força pra continuar a caminhada.
Em setembro conheci um amigo incrível. Me pediram pra estar sempre por perto, pra que eu tente fazer uma ligação entre dois mundos completamente diferentes. Tento conduzir de uma forma confortável e sutil, sei que os dois lados já perceberam porque eu vim. E eu sei que vim e vou ficar.
Outubro e novembro de doce não tiveram muita coisa. Os preparativos pro final do ano já estavam a todo pano, quando nos mostraram uma doença rara e complicada em uma das raízes da família. Ao invés de desestruturar, fiz de tudo pra ajudar a família a se contruir de novo. Alicerces fortes e robustos é o segredo de toda a arquitetura.
O último mês do ano me deu o melhor presente de Natal. Pisar no palco, sentir o público, encarar, bater no peito, fazer com verdade, com vontade, com prazer e logo ouvir ensurdecedores aplausos. Aplauso? Por estar fazendo o que mais me deixa feliz? Aplauso pra... mim?
Um aplauso pra vida, plena e sempre certeira. Que faz o errado necessário pro nascer do próximo acerto.
Que faz a dor se transformar em felicidade num piscar de olhos. Que faz do amor, ódio. E desvira de novo essa camisa. Que recicla as relações, as pessoas, os dias.
Que nos permite tentar de novo.
Então vamos lá, tentar fazer tudo perfeito mais uma vez.
Em 2010 eu só plantei.
Agora é hora de começar a colher.
Um bom ano, uma boa vida.
Rebecca Garcez
Agradecimentos:
Família Strachan, Fábia, família Marquez, Paulo Henrique Motta, Juliana Valin, Madjer Geanini, Victor Afonso e toda a turma de Iniciantes I do Curso de Teatro Zaira Zambelli, Maíra Duque, Tainá Scharra, Pedro Hilário Dantas, Felippe Gomes, Agatha Galvão, Francis, Raphael Castro, Lucas Zanini e todo o pessoal da cmm, ao Fluminense, por me dar momentos de felicidade extrema e por me ligar a pessoas tão incríveis, Isabela Herig, Thamires Vasconcelos, Jéssica Santos, e a toda a minha família. Vocês foram primordiais pro sucesso desse ano que passou. Meu apoio e amizade à vocês, sempre.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Essa sou eu. E esse é meu mau humor quando acordo.
Odeio essas paradas de meia hora que os ônibus fazem em Resende. Nunca sei se fico esperando, encalorada, do lado de dentro, ou se saio pra ir ao banheiro cheirando à pinho sol.
Saí. E daqui de fora me vejo lá. Essa sou eu.
Descabelada e sem motivação nenhuma pra arrumar os cabelos. Não tem ninguém interessante por aqui. Quando digo ninguém englobo uma quantidade enorme de pessoas num raio relativamente pequeno. Desde quando larguei tudo o que tinha na lixeira numa quinta, que é quando a Comlurb passa na minha rua recolhendo o lixo, me bateu uma canseira do mundo... E não me arrependo, não.
Os espelhos desse banheiro sempre me agradaram bastante, mas agora eu quero é mesmo que se espatifem, em milhares de pedacinhos. Lavei as mãos como quem tem a remota esperança de ensaboar os problemas e vê-los escorrendo pelos ralos junto com a imundície que carregava entre os dedos. Fui me arrastando até a banca de jornal onde paquerei meias manchetes. Tricampeão. Sorri. Sorri e me arrepiei dos pés a cabeça, lembrando da emoção ao ouvir o apito. Ao piscar os olhos já voltei pro chão que piso. Piso e sinto o peso da carga.
Talvez eu esteja cansada.
Com certeza é cansaço. Eu costumo não ter a percepção do que vem de dentro mas dessa vez foi um pouco diferente.
Essa sou eu. E essa é minha falta de fé quando me importo.
Tentei me pescar de volta, mordi a isca. Mas o pescador, que era eu, resolveu me desprender e soltar de novo no mar de nada.
Mas nada!
Mais nada.
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