Estava posto em cima da mesa. E o garoto não sabia seu gosto.
Despertou ao amanhecer, ficou na cama por alguns minutos organizando seus pensamentos.
Não rezou, não agradeceu, não acreditava... E ainda ria de quem por ele orava!
Pisou no chão gelado, perdera a meia em meio à cama.
Se arrastou pelas paredes, com um olho aberto e outro fechado, estava acostumado...
Apoiou-se na pia, olhou-se no espelho, não gostava do que se via.
Cadê a luz que irradia?
Um reflexo saía de seus olhos verde-água.
Deixava correr a água pelas mãos quentes.
Sorriu, só pra ver se ainda tinha todos os dentes.
Seu braço magro, coberto por hematomas, só tinha força pra estender uma rosa a quem amava.
A quem por ele orava e chorava, por ele acreditava.
Vestiu sua camisa amarrotada e seguiu rumo a cozinha bagunçada.
Morava sozinho porém, acompanhado.
Morava sozinho em seu quarto, morava sozinho em sua vida.
Uma vida que não tinha vida, uma vida morta já que era um morto-vivo.
"Bom dia!" - era o que o bule o desejava.
"Bom dia só se for pra você, bule estúpido!"
Olhou para os armários e notou que estavam todos fechados. A louça, lavada. A pia, arrumada.
Fez uma cara de espanto e seguiu até a lavanderia. Roupas passadas, camisa engomada, e um bilhete. "Não coma o sanduíche. Com amor, Alana."
"Ora, que inferno. Quem cuida de alguém aqui, sou eu!"
Cuidava de Alana como se fosse sua filha. Mas não cuidava de seu eu, de seu seu.
Voltou para a cozinha e lá estava, sobre um pires amarelo, o sanduíche.
Com a boca cheia d'água, amarga, cortada e tomada por curiosidade, deu uma dentada.
"Saboroso..."
O gosto final era fatal. Um anestésico mortal.
Sanduíche de migalomorfa.
Morreu por causa do veneno.
Viu sua vida em dois segundos.
A infância rolando junto com o feno, a adolescência se apagando junto com seus cigarros e...
Alana, Alana, Alana, Alana, Cuidado, A lama, A ama.
Um comentário:
E então mordeu a maçã...
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