"Pai, o senhor hoje recebe esse substantivo sem tê-lo merecido em nenhum dos dias em que se levantou da cama. Passei toda a minha minúscula vida me perguntando o motivo de toda essa repulsa, pesquei no íntimo de minha amada mãe qualquer justificativa pouco plausível pra me (te) aliviar. Depois de uma conversa de bar, onde eu bebia copos e copos descartáveis de cerveja barata me vi vivendo um dia ao seu lado. Só eu e você. Engraçado que nunca tinha pensado nisso até que me dei conta de quão inimaginável essa cena se torna. Não te conheço. Não sei o que faz da vida. Não posso nem cogitar o que faz no almoço de domingo, com que gasta seu dinheiro, como se diverte, onde consegue seu fumo, como sua mulher te trata e como ela é tratada. Se o cachorro faz no jornal. Não sei se sabe cozinhar, e se cozinha, não sei se tempera seu frango com limão ou curry. (Caso cozinhe, experimente curry no arroz.)
A terapeuta passou uma lição de casa. Caminhar até o advogado, comprovar que sou obra de seu esperma, entregar cópias de documentos comprovando que sou de fato uma obra, onde resido, qual a sequência de números que me representa, pro advogado levar pro fórum da cidade e depois disso não sei qual é o procedimento legal. Só sei que você vai receber uma carta. Não essa. Outra. Uma carta chamando você pra conversar comigo por algumas horas, minutos, talvez. Depois dessa conversa uma parte do seu salário que nem sei se tem vai ser destinada a mim todo mês.
Acho que a terapeuta quer te mostrar que eu nasci, não sei... Mas vem conversar comigo.
Prometo não fazer birra, pai."
4 comentários:
Alguns sabem reconhecer e admirar uma boa obra de arte. Outras passam a vida sem conhecer e perceber suas próprias obras. Mas é aí que alguém precisa dar um empurrãzinho. Alguém precisa estalar os dedos para que se encerre a hipnose. Não se pode viver a vida sem que se reconheça as próprias responsabilidades. Acaba que esta recai sobre nós para que possamos salvá-los (SIM. SALVÁ-LOS) e trazê-los à vida. Eles são co-autores de uma história. E esta história eles escrevem todos os dias, mesmo sem estarem presentes. Todo dia uma palavra, um verso, uma linha. Nem sempre expressões bonitas. Nem sempre histórias felizes. Mas escrevem e participam.
Nada mais justo que reconheçam.
O importante é que isso t fez assim. Te fez melhor. Bem melhor que ele.
Você é foda ! Eu sou teu fã..
Fabi tem razão.
Postar um comentário