Odeio essas paradas de meia hora que os ônibus fazem em Resende. Nunca sei se fico esperando, encalorada, do lado de dentro, ou se saio pra ir ao banheiro cheirando à pinho sol.
Saí. E daqui de fora me vejo lá. Essa sou eu.
Descabelada e sem motivação nenhuma pra arrumar os cabelos. Não tem ninguém interessante por aqui. Quando digo ninguém englobo uma quantidade enorme de pessoas num raio relativamente pequeno. Desde quando larguei tudo o que tinha na lixeira numa quinta, que é quando a Comlurb passa na minha rua recolhendo o lixo, me bateu uma canseira do mundo... E não me arrependo, não.
Os espelhos desse banheiro sempre me agradaram bastante, mas agora eu quero é mesmo que se espatifem, em milhares de pedacinhos. Lavei as mãos como quem tem a remota esperança de ensaboar os problemas e vê-los escorrendo pelos ralos junto com a imundície que carregava entre os dedos. Fui me arrastando até a banca de jornal onde paquerei meias manchetes. Tricampeão. Sorri. Sorri e me arrepiei dos pés a cabeça, lembrando da emoção ao ouvir o apito. Ao piscar os olhos já voltei pro chão que piso. Piso e sinto o peso da carga.
Talvez eu esteja cansada.
Com certeza é cansaço. Eu costumo não ter a percepção do que vem de dentro mas dessa vez foi um pouco diferente.
Essa sou eu. E essa é minha falta de fé quando me importo.
Tentei me pescar de volta, mordi a isca. Mas o pescador, que era eu, resolveu me desprender e soltar de novo no mar de nada.
Mas nada!
Mais nada.
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