terça-feira, 28 de julho de 2009

Dei duas voltas e meia ao redor do mundo em apenas três segundos, mergulhei no infinito, fundo, imaginei o mar passando por todos os sete pontos de um corpo torto. Virei a xícara cheia de chá, cheia de choro. Sentei no caco de vidro, dormi na parte de dentro do sapato de vinil, lá fora chovia qualquer coisa, menos chuva, desmanchava o enfeite feito de fita de cetim número um, daquelas que vovó usava pra arrematar o enchimento de filó enquanto ensinava o bê-a-bá.

Dei duas voltas e meia ao redor do mundo em apenas três segundos, brinquei de pique-esconde com o vizinho da frente, cego, segui pela avenida principal, que dá lá na feira, eu nunca vi lugar com tantas cores, nunca vi cidade de tantos amores. Lembrei daquele cheiro, acordei na beira do banco, dancei com as estátuas da fonte, vi nascer o sol sozinha, penteei os cabelos longas vezes, vesti a saia longa com guipir, daquelas que vovó costurava com todo o amor que há.

Dei duas voltas e meia ao redor do mundo em apenas três segundos, escalei o muro de pedra (bem acho que aquela casa é mal assobrada, igual a mim), chutei noventa e cinco pedrinhas até chegar no ápice da minha loucura. E não culpo bebida, homem ou escadaria. Eu culpo a corda-bamba, que balança, balança e não derruba quem tá lá em cima grudado, cantando alto suas milhares de contradições, escarrando gengibre vencido, esfarelando o paletó com pá.

Cuidado!
Qualquer dia acaba a corda, o couro e o pescoço.

Um comentário:

Aglio disse...

Disse e repito:

escreve como quem tece uma toalha de renda ;**